O mérito não é nosso

 

Texto base: Mateus 1:1-6



¹ Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.

A genealogia do nosso Senhor Jesus apresentada no início do Evangelho segundo Mateus tem como propósito mostrar que Ele, enquanto homem, descende do rei Davi e, mais acima, do patriarca Abraão. Isso é importante porque as profecias anunciadas no Antigo Testamento a respeito do Messias estabelecem uma ligação entre Ele e Davi, sendo este, de certa forma, uma figura (ou, como se diz entre os teólogos, um tipo) do Salvador que há de colocar a todos debaixo do seu domínio.

Em virtude de ser o nosso Deus alguém que zela por sua palavra, é necessário explicitar que Jesus, para ser o Messias, forçosamente deve descender de Davi, pois foi esta a promessa realizada. O zelo que o Altíssimo tem por sua palavra é o que nos mantém confiantes em suas promessas e nos faz ter a Bíblia como rocha sobre a qual nos apoiamos no tocante a obter informações acerca de como vivermos e nos relacionarmos com as pessoas e as coisas.



³ E Judá gerou, de Tamar, a Perez e a Zerá; e Perez gerou a Esrom; e Esrom gerou a Arão;

A composição de genealogias, à época, não tinha por costume incluir mulheres na lista. Ocorre, porém, que nessa realizada por Mateus, percebemos que quatro mulheres são citadas, pelo que o Espírito Santo tem algo a nos mostrar. Deus sabe de todas as coisas, Ele a tudo governa, de maneira que cada detalhe, para acontecer, necessita do seu aval.

A primeira mulher citada é Tamar, a qual se envolveu com Judá para gerar Perez, ancestral de Jesus. Ao investigarmos nas Sagradas Escrituras o que se relata acerca da vida de Tamar, percebemos que ela se disfarçou para engravidar do seu sogro, Judá (Gênesis 38). Se essa atitude é deveras terrível e inominável hoje em dia em que os valores estão invertidos, pois vemos o acinte contra tudo o que é sagrado, justo e digno subir escandalosamente aos mais altos níveis, quanto mais àquela época, em que contratos eram firmados tão somente na confiança da palavra falada entre dois homens.



E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé;

Outras duas mulheres são referenciadas nesse versículo, a saber, Raabe e Rute. Vejamos um pouco do que a vida de cada uma carrega de significativo.

Raabe era uma prostituta, provavelmente também dona de um prostíbulo na cidade de Jericó, cidade que foi conquista pelo povo de Deus enquanto rumavam a Canaã após sua saída do Egito. Assim como Tamar e Rute, não possuía ascendência hebreia, isto é, não descendia de Abraão, de modo que não pertencia ao povo de Deus. É importante dizer que embora a prostituição fosse um ofício comum desde aquela época, não era bem visto pelas pessoas, pois nenhum pai gostaria que seu filho se casasse com uma mulher que tinha como trabalho vender o próprio corpo.

Por sua vez, Rute era natural de Moabe, país cujo povo era extremamente idólatra e em muitas ocasiões inimigo do povo israelita. Apesar das animosidades entre as duas nações, havia uma espécie de parentesco entre elas, visto que os moabitas são descendentes de um dos filhos que Ló, sobrinho de Abraão, teve com uma de suas filhas. Vê-se, pois, que se trata de um povo que tem como origem um incesto, ou seja, a origem desse povo está no proibido e asqueroso relacionamento entre pai e filha, comportamento aprendido pela filha de Ló enquanto moravam em Sodoma.



E Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.

Por fim, como derradeira mulher da lista temos Bate-Seba, mulher de Urias, com quem Davi se relacionou para gerar Salomão. Essa mulher engravidou do rei Davi enquanto Urias ainda estava vivo, conquanto o fruto dessa relação tenha sido perdido como punição dada por Deus.

Mesmo que a Bíblia não impute diretamente a culpa de tão grave pecado a Bate-Seba, Davi passou a cobiçá-la a partir do momento que, do terraço do seu palácio, a viu se banhando dentro de sua casa. Desse modo, é bem provável que ela tenha escolhido um local para se exibir ou, na melhor das hipóteses, não tenha tomado cautela suficiente para não expor sua intimidade a outrem. O fato, todavia, é que malgrado Davi seja o principal culpado – pois para encobrir sua falha diante da sociedade mandou que Urias, na condição de soldado do seu exército, fosse enviado para a frente de batalha onde era mais provável de ser morto – Bate-Seba pecou por se exibir perante o rei.



Não se pode dizer que a história de vida dessas mulheres as coloca no grupo de mulheres que tiveram toda uma vida santa e irrepreensível aos olhos do Senhor. De fato, em Tamar vemos a execrável relação entre uma nora e seu sogro; Raabe, uma mulher que vendia seu corpo, e possivelmente até mesmo dona de um prostíbulo; Rute não tinha boa procedência, pois vinha de um povo altamente idólatra e impregnado por maldição em razão de ser oriundo da relação de uma filha que embebedou seu pai; por fim, Bate-Seba cometeu o pecado de, estando casada, exibir-se para o rei. Contudo, contra todas essas razões, estão elas incluídas na lista de ascendentes do Messias, aprouve a Deus que fosse assim. Quais lições podemos tirar à vista de tudo?

  • Deus quer mostrar que a sabedoria dele é mais sábia que a sabedoria humana, pois quão inescrutáveis são seus caminhos;

  • Deus não olha para nós procurando algum mérito para a conversão ou salvação, pois se assim o fosse essas mulheres jamais poderiam figurar na linhagem biológica de Jesus;

  • Deus intenta eloquentemente nos convencer que nada é impossível para Ele, pois pode extrair diamante de uma pedra bruta sem valor;

  • Deus é quem tem o mérito em todas as vitórias, e Ele quer deixar claro isso, assim como ocorreu com Gideão que de 30 mil soldados Deus fez reduzir para 300 a fim de que toda a glória fosse dada a Ele;

Defronte essas observações, aprendemos que jamais poderemos procurar méritos em uma pessoa que a levariam a servir a Cristo. Em outras palavras, por mais imunda, arrogante, jactanciosa, avarenta, viciada, mentirosa e desonesta seja uma pessoa, a graça de Deus ainda pode alcançá-la, tal como alcançou essas quatro mulheres, com as quais, aos olhos humanos, nenhum de nós gostaria de ter parentesco. Deus não vê como o homem vê, pois este vê a aparência externa, Deus entretanto olha o coração.



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