Moisés e suas muitas mães
Texto base: Êxodo 1:22 a 2:10
Quando José estava no posto de governador do Egito, seu pai Jacó, seus irmãos, bem como as esposas e filhos de seus irmãos desceram a esse país para nele fazer morada a convite do próprio Faraó, de quem José era braço direito. Cerca de 70 pessoas compunham o então povo de Deus. Pouco tempo depois, morreu Jacó; anos mais tarde, foi a vez de José partir para onde vai todos os homens.
Muitos anos se passaram até que subiu ao trono do Egito um Faraó que desconhecia os feitos passados de José, bem como as bênçãos de Deus sobre toda a terra em virtude de terem acolhido os herdeiros da promessa. Vendo esse rei que o povo de Deus em muito se multiplicara, passou a temer que um povo estrangeiro, residente no Egito, se tornasse mais poderoso do que os próprios nacionais. Sim, eram dois povos vivendo no mesmo país: Ainda que residissem com os egípcios, os israelitas com eles não se misturavam. E não cultivavam laços mais profundos com os egípcios porque sabiam que estes eram idólatras, não serviam ao Deus Altíssimo. Povo de Deus é santo; deve ser santo assim como Deus é Santo. Por influência católica, as pessoas de hoje em dia entendem santidade como privilégio de poucos que não se sujaram no lamaçal do pecado; no entanto, ser santo, em termos bíblicos, significa ser separado.
Evidentemente, a busca da santidade não pode nos impedir de interagir com o mundo. Com efeito, o Senhor Jesus andava com prostitutas e publicanos, apregoando-lhes o Evangelho da salvação. Ser santo implica não nos deixar contaminar pelo pecado, reflete-se numa postura em que propositadamente nos colocamos como influenciadores e não influenciados.
¹⁵ O rei do Egito ordenou às parteiras dos hebreus, que se chamavam Sifrá e Puá: ¹⁶ "Quando vocês ajudarem as hebréias a dar à luz, verifiquem se é menino. Se for, matem-no; se for menina, deixem-na viver".¹⁷ Todavia, as parteiras temeram a Deus e não obedeceram às ordens do rei do Egito; deixaram viver os meninos.
Temendo os israelitas, que vinham crescendo em número e em vigor – pois quanto mais eram oprimidos com trabalhos forçados, mais se multiplicavam – o Faraó determinou que Sifrá e Puá, as parteiras responsáveis por auxiliar as hebreias a darem à luz, não deixassem a criança viver caso fosse menino; mas, sendo menina, haveria a permissão para continuar viva. As parteiras, porém, temendo a Deus, não obedeceram às ordens do Faraó.
É importante destacar que o rei do Egito era o homem mais poderoso do país mais poderoso do mundo. Numa época em que não havia direitos, em um período no qual a palavra do rei era a própria lei, desobedecer a uma ordem emanada do líder máximo colocava a pessoa em risco muito alto de morte. Portanto, com tal atitude, as parteiras preferiram mesmo serem condenadas à morte a ir contra a vontade de Deus.
Hoje em dia muitas pessoas têm uma imagem caricata do Deus Altíssimo como um Deus de puro amor, como de fato o é, porém também como um Deus que não traz juízo sobre todo o que insiste em praticar o pecado, o que é deveras um disparate. O Senhor Jesus nos disse para não temermos o homem, que mata o corpo e depois não sabe o que fazer com este; mas devemos temer a Deus, que além de matar o corpo, tem poder de jogar a alma no inferno.
Aquelas parteiras, ademais, em virtude do temor que tinham a Deus, sempre que olhavam para os meninos recém-nascidos, tinham por eles profundo afeto e compaixão, tendo, portanto, seu coração demovido de praticar contra almas indefesas tão nefasta maldade. O temor a Deus nos mantêm distantes do pecado, aperfeiçoa a santidade (2 Coríntios 7:1). Quando tememos a Deus, deixamos o Espírito Santo trabalhar em nossas vidas, tornamo-nos instrumentos do agir de Deus sobre as pessoas.
Sifrá e Puá não tinham família; Sifrá e Puá não eram mães. Porém, embora não tivessem filhos, tratavam a todas as crianças que tomavam em seus braços após o trabalho de parto como se fossem suas filhas. O profundo afeto e carinho que tinham por elas era tamanho a ponto de preferirem morrer sob as mãos do temível Faraó a fazerem mal a qualquer daqueles pequeninos. Assim, vê-se que o sentimento materno legítimo não é sentido por apenas aquelas que deram à luz, mas também pode ser experimentado por mulheres que, em virtude de temerem a Deus, fazem a vontade de Deus: Cuidam, zelam, alimentam, se doam.
²⁰ Deus foi bondoso com as parteiras; e o povo ia se tornando ainda mais numeroso, cada vez mais forte. ²¹ Visto que as parteiras temeram a Deus, ele concedeu-lhes que tivessem suas próprias famílias.
Sifrá e Puá não eram mulheres perfeitas, certamente apresentavam suas falhas. Mas quem é perfeito? Quem pode dizer que está isento de falhar, de errar? Deus quer que andemos em santidade, mas por mais que nos esforcemos, em um momento ou outro caímos: quando não pecamos por ações, pecamos por palavras; se temos sucesso em controlar nossa língua, pecamos em pensamento; se cultivamos pensamentos puros e honestos em nossa mente, pode ser que falhemos por sermos omissos.
Certa vez nosso Senhor contou uma parábola que ilustra com bastante profundidade como Deus deseja que nos vemos a nós mesmos e de que modo isso deve se refletir na oração: Duas pessoas foram ao templo para orar, um fariseu e um publicano; enquanto o primeiro orava em sua arrogância agradecendo a Deus pela pessoa que era, sobretudo por não ser pecado como o publicano, este nem sequer olhava para os Céus, mas tão somente batia em seu peito dizendo “Tenha piedade de mim, Senhor, pois sou pecador”. Dentre as duas, a única ouvida por Deus foi a segunda.
Aprouve a Deus demonstrar bondade para com as parteiras. De fato, Sifrá e Puá gozavam de boa fama dentre as parteiras, sendo as únicas a realizar partos nas mulheres do povo de Deus; ademais, é bastante razoável pensar que não eram mulheres de pouca idade, pois é sabido de todos que no mais das vezes a fama vem acompanhada da experiência. Assim, não obstante a idade, não obstante não possuírem uma família, estavam sempre prontas a auxiliar as hebreias em um momento de tão grande aflição – e quem já deu à luz via parto normal sabe muito bem como as dores das contrações são intensas! Como se não bastasse, em que pese os inúmeros partos que haviam feito ao longo da vida, nutriam por cada criança um profundo amor e afeto. Em suma, tratavam-se de mulheres que choravam com quem chorava – em ocasiões de algum entrevero – mas também se alegravam com quem se alegrava – mesmo sendo esta geralmente a parte mais difícil para as pessoas.
Depois de anos e anos de uma vida de empatia, compaixão, afeto, carinho e cheia de amor ao próximo, fazendo a alegria de inúmeras famílias, nosso Senhor, em um ato de imensurável misericórdia, concede-lhes o privilégio de elas mesmas terem uma família.
²² Por isso o faraó ordenou a todo o seu povo: "Lancem ao Nilo todo menino recém-nascido, mas deixem viver as meninas".
Compreendendo que seus intentos de frear o crescimento da população israelita por via do assassinato de seus filhos no momento do parto, uma maldade que pretendia realizar na surdina perante esse povo, Faraó, em um ato claro e manifesto de agressão o povo de Deus, decreta que todo menino recém-nascido fosse lançado ao rio Nilo.
Êxodo 2: ¹ Um homem da tribo de Levi casou-se com uma mulher da
mesma tribo, ² e ela engravidou e deu à luz um filho. Vendo que era
bonito, ela o escondeu por três meses.
O povo israelita era formado por 12 tribos, cada uma das quais tendo patriarca um dos filhos de Jacó. Mais tarde foi instituída a ordenança de que uma pessoa apenas poderia se casar com outra da mesma tribo.
Lendo o texto da forma como se apresenta, podemos ser induzidos a penar que a mulher, chamada Joquebede, apenas escondeu seu filho de ser jogado ao Nilo após notar que ele era bonito. Evidentemente, não se trata disso: a mulher, como mãe, nutrindo pelo filho compaixão e o mais profundo afeto, amava-o a ponto de achá-lo lindo! Não via nele nenhum defeito porque seu olhar não se restringia à mera aparência superficial, olhava-o como um ser humano, indefeso, dependente, inocente. Esse é o olhar que uma mãe tem por seu filho: pode ter este todos os defeitos, mas sua mãe enxerga muito além da casca, enxerga o ser humano que seu filho é, conhece suas falhas e, por conhecê-las, sabe que precisa de correção, mas também carinho, atenção, cuidado.
³ Quando já não podia mais escondê-lo, pegou um cesto feito de junco e o vedou com piche e betume. Colocou nele o menino e deixou o cesto entre os juncos, à margem do Nilo. ⁴ A irmã do menino ficou observando de longe para ver o que lhe aconteceria. ⁵ A filha do faraó descera ao Nilo para tomar banho. Enquanto isso as suas servas andavam pela margem do rio. Nisso viu o cesto entre os juncos e mandou sua criada apanhá-lo. ⁶ Ao abri-lo viu um bebê chorando. Ficou com pena dele e disse: "Este menino é dos hebreus". ⁷ Então a irmã do menino aproximou-se e perguntou à filha do faraó: "A senhora quer que eu vá chamar uma mulher dos hebreus para amamentar e criar o menino? "⁸ "Quero", respondeu ela. E a moça foi chamar a mãe do menino.
A atmosfera de ameaças estava sobremaneira pesada. Muitos bebês israelitas, devido à ordem de Faraó, estavam sendo lançados no rio. Joquebede tento ao máximo esconder seu filho para evitar ser capturado, mas os perseguidores eram ferozes e incansáveis. Tendo a aflição se tornado para si grande demais para continuar mantendo a criança consigo, decide pegar um cesto, vedá-lo com piche e betume, e nele colocar o bebê à margem do Nilo, esperando por um ato de misericórdia de Deus.
Enquanto temos condições de agir, devemos agir, fazendo a nossa parte. Entretanto, chega um momento em que nos falta força, nosso braço não mais alcança; nesse momento confiamos inteiramente em Deus. Quando o fim parece ter chegado e sentimos que nada mais podemos fazer para reverter a situação, é nesse momento que muitas vezes Deus age, para deixar claro que a vitória veio Dele e não de nós. Joquebede não tinha outra alternativa a não ser confiar completamente, de todo o seu ser, no Deus de misericórdias.
De repente, quem desce para banhar-se no rio? A própria filha do terrível Faraó; sim, a filha do homem que havia mandado assassinar todos os meninos recém-nascidos israelitas. Mas essa mulher, embora não fosse mãe, como que movida pelo Espírito Santo, mesmo sabendo que se tratava de um menino hebreu, portanto digno de morte segundo o decreto de seu pai, manifestou a mais profunda ternura e compaixão, como uma mãe, para com aquela criança. Não só não obedeceu à vontade de seu pai, colocando sua própria vida em risco, como deixou o bebê ser amamento por Joquebede antes de ficar com ele.
⁹ Então a filha do faraó disse à mulher: "Leve este menino e amamente-o para mim, e eu lhe pagarei por isso". A mulher levou o menino e o amamentou. ¹⁰ Tendo o menino crescido, ela o levou à filha do faraó, que o adotou e lhe deu o nome de Moisés, dizendo: "Porque eu o tirei das águas".
Como provas do sentimento de afeto e apego que dominaram a filha do rei, esta deixou o bebê sendo amamentado e deliberou dar uma ajuda financeira a Joquebede, seguramente com o intuito de que os cuidados para com a criança fossem redobrados.
Ao crescer, o menino foi levado para morar no palácio junto à filha do Faraó, onde receberia os melhores cuidados, educação, instrução nas ciências e nas letras, e preparação, sob a providência de Deus, para ser o grande líder a ser levantado para guiar o povo pelo deserto até a Terra Prometida. Além do mais, Deus usou o sentimento materno da filha do Faraó para tornar Moisés o homem capacitado não somente para guiar, como também para passar ao numeroso povo a vontade de Deus mediante a Lei.
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