Resposta à pergunta: “Se Deus deseja e é capaz de destruir o mal, por que este existe?”

 

1. Deus criou o mal? O mal não foi criado por Deus, existe a seu contragosto;

2. Onde está a origem do mal, se não em Deus? Iniciou-se com a subversão humana a propósito do pecado original. Dos frutos de todas as árvores Adão e Eva poderiam ter comido, à exceção de uma. Mas eles não obedeceram.

3. Deus não poderia ter escrito a história de modo que Adão e Eva não se sentissem tentados a comer do fruto proibido? Embora Deus seja deus, há certas coisas que ele não fará; não porque não pode, mas porquanto não negará a si mesmo. Ex.: 2+2=4, ele não mudará isto; Deus não criará uma pedra que seja tão pesada a ponto de não podê-la suportar, etc. Insisto: ele não fará estas coisas porque não é capaz, mas porque se assim o fizesse, negaria a estrutura que ele mesmo estabeleceu.

Retornarei à pergunta inicial: Por que Adão e Eva não foram criados de maneira que não pecassem? Respondo: Tudo o que existe, existe em ato ou potência (ideia formalizada primeiro por Aristóteles, mas não necessariamente engendrada por ele). Ex.: a semente, embora não seja uma árvore em ato, isto é, atualmente, ela o é em potência, visto que tem o potencial para o ser; há certos alunos que atualmente (em ato) são displicentes, mas noto que têm o potencial para serem bons (são bons em potência); por fim, quando olho para uma embalagem de trigo não vejo um bolo atual, pois trigo, enquanto trigo, é trigo – mas certamente aquele trigo dentro do pacote é um saboroso bolo em potência. Com tudo isso quero dizer o seguinte: o mal já existia em Adão e Eva em potência, mas não porque Deus o pôs no coração deles; a causa é: tencionando criar seres que o adorassem pelo que ele é, de boa vontade, sem constrangimento e em verdade, deu-lhes o livre arbítrio, ou seja, a liberdade de escolha. Esta é a origem do mal em potência! Mas Deus não poderia concedê-lo sem a possibilidade do mal? Não, porque certas coisas são inevitáveis, como acima expus.

4. Por que, após a materialização do mal com o pecado primeiro, Deus não destruiu tudo para tornar a criar o homem, como antes? Porque enquanto fosse dado o livre arbítrio, o mal se manteria vivo em potência, ainda que não em ato. Em outras palavras, mais cedo ou mais tarde o ser humano pecaria.

5. Deus deseja acabar com o mal? Sim, e como! Ele traçou um plano de salvação assim que o primeiro pecado foi perpetrado, dizendo profeticamente à serpente que suscitou o mal latente no coração humano: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:16). No evangelho de João, capítulo 3, verso 16, está escrito: “Deus amou o mundo de tal maneira que entregou seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

A semente à qual Deus referiu que feriria a cabeça da serpente, isto é, de Satanás, é Jesus, o Cristo. No princípio ele era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (João 1:1). Mas veio em forma humana, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2: 6-8).

Consegue imaginar amor maior? O próprio Deus se submeteu às dores e humilhações humanas, ultraje e escárnio, para nos salvar de nós mesmos e do juízo vindouro. Ele não padeceu por quem é bom, isto talvez não fosse algo tão notável; mas por quem é perverso, mau desde a meninice (Gênesis 8:21).