Oração do Maledicente
Texto base: Salmo 39
Oração que todo aquele que já sentiu o peso do arrependimento por ter difamado ou caluniado deseja fazer.
Não são poucas as ocasiões em que somos movidos pela doçura e prazer em examinar destrutivamente a vida de outrem. Assim como a ressaca faz-nos cogitar nunca mais consumir bebidas alcoólicas, nosso coração, em uma ação totalmente engendrada pelo Espírito Santo, tomado por contrição, piedosamente clama a Deus pelo perdão.
Lamentavelmente, como ocorre com as bebidas assim nos sucede no tocante à maledicência: Permanecemos inexpugnáveis às tentações enquanto as marcas deixadas pelo erro se mantêm vivas em nossa memória. Tão logo se enfraqueçam, semelhantemente a porcos voltamos a nos revolver na lama.
Verso 1: Eu disse: Guardarei os meus caminhos para não delinquir com minha língua. Enfrearei minha boca enquanto o ímpio estiver diante de mim.
Senhor, deixarei de proceder pecaminosamente. Me esforçarei em não mais agir de modo contrário à tua vontade. Sei que tenho me excedido muito em falar mal dos outros, por vezes resvalando na calúnia. De agora em diante, mesmo se tratando de ímpios, evitarei me regozijar com sua desgraça – pois o mal não traz outra coisa senão a desgraça para quem o pratica.
Verso 2: Com o silêncio fiquei como mudo; calava-me mesmo acerca do bem; mas a minha dor se agravou.
Meu Senhor, procurei não verbalizar aquilo que subia ao meu coração; mesmo quando dizia respeito a quem claramente praticava o mal. Fiquei como mudo. Para evitar que alguma injustiça fosse por mim proferida, busquei não falar inclusive acerca do bem. Porém mesmo assim a minha dor se agravou.
Verso 3: Incendeu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava se acendeu um fogo: então falei com a minha língua. Disse:
O pecado, ainda que não praticado, corroía-me por dentro. As palavras não ditas intoxicavam o meu ser. Foi então que meu coração começou a arder.
Verso 4: Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta quanto sou frágil.
Percebi que a origem da vontade em pecar com a língua estava no orgulho que tomava conta de mim. O orgulho, o pecado de Satanás, induzia a considerar-me mais santo e correto que as demais pessoas, por conseguinte mais apto a lhes corrigir e julgar. Por isso a maneira mais sensata de pôr fim à propensão em maldizer é cortar o mal desde a raiz: Abalando meu orgulho.
Para tanto, Senhor, mostre-me o fim. Incuta em minha mente o sentimento de fragilidade, de que sou mortal.
Verso 5: Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo de minha vida é como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade.
Sei que os meus dias nesse mundo são poucos. A vida é como um sopro, não passo de um nada diante de ti. Apenas o Senhor é eterno e justo e bom. Quanto a mim, por melhor que esteja a minha saúde, por maior que seja a minha autoestima, tudo se vai como folhas jogadas ao vento.
Verso 6: Na verdade, todo homem anda como uma sombra; na verdade, em vão se inquietam; amontoam riquezas e não sabem quem as levará.
Uma vida voltada completamente para a fruição dos sentidos e acúmulo de bens materiais não tem sentido. Nossa estadia nessas terras é curta, a injustiça no mais das vezes prevalece sobre a justiça, e, por maiores que sejam os feitos alcançados, somos como sombras: Nossos nomes não se encontrarão ancorados em alguma memória. Não há, pois, razão para qualquer inquietude e correria.
Verso 7: Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti.
Face a tudo, Senhor, que caminho trilharei? Por que porta vou entrar? Que rumo darei à minha vida? Em quem colocarei a minha esperança? Absolutamente não há outro caminho além de ti.
Verso 8: Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio dos loucos.
Eu escolho a ti, meu Senhor. Por isso, a partir desse momento, perdoe-me por todos os erros, falhas, e pela obstinação com a prática do pecado. Buscarei continuamente sua face mediante uma vida de santidade. Não me deixe, porém, ser alvo dos tolos, os quais, além de te rejeitarem, zombam daqueles que entregam suas vidas ao Senhor.
Verso 9: Emudeci; não abro minha boca porquanto tu o fizeste.
Estou mudo. Não mais abrirei a minha boca para proferir maldades, porque eu espero em ti. Juiz perfeito não mais me atrevo a ser, pois o Senhor, ao se mostrar capaz de sondar o coração, é o único que julga com retidão
Verso 10: Tira de sobre mim a tua praga; estou desfalecido pelo golpe da tua mão.
Verso 11: Se com repreensões castigas alguém, por causa da iniquidade, logo destróis, como traça, a sua beleza; de sorte que todo homem é vaidade.
Agora que espero apenas em ti, meu Deus, peço que cesse de me afligir com a tua justiça. O peso da tua mão é muito grande para ser suportado. Não sou nada, Senhor. Estou convencido de que sou fraco e mortal, pelo que tudo passa, menos o Senhor.
Verso 12: Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas lágrimas, porque sou para contido como um estranho, e peregrino como todos os meus pais.
Ouça a minha oração, Senhor. Tenha misericórdia de mim. Não incorrerei mais nos mesmos erros. Compreendi que em vão se inquietam as pessoas e que não somos nada além que sombras.
Verso 13: Poupa-me, até que tome alento, antes que me vá e não seja mais.
Permita que o peso do pecado não continue sobre mim. Quero sorrir e me alegrar no Senhor, viver uma vida de santidade e de comunhão com Cristo. Clamo a ti que me poupe, antes que seja tarde demais.
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