Fiel até em fornalha de fogo ardente
Texto base: Daniel 3
O contexto do relato é a Babilônia, para onde foram levados os israelitas como consequência de anos de desobediência e insubmissão a Deus. O profeta Jeremias, inspirado pelo Espírito Santo, em diversas ocasiões declarara o que sucederia àquele povo caso não se arrependessem de sua rebeldia; como não deram ouvidos às ordenanças divinas, materializou-se a tão anunciada punição com o cativeiro em terras estrangeiras, o qual duraria, segundo as mesmas predições do profeta, 70 anos.
Durante o cativeiro destacam-se, desde o início, quatro jovens judeus pelas capacidades cognitivas. Conta-se que eram mais sábios e inteligentes que todos os magos e astrólogos do reino. Esses garotos eram: Daniel, Sadraque, Mesaque e Abedenego. O texto base desta meditação enfatiza de modo especial os últimos três.
Nabucodonosor, rei de Babilônia, certo dia deliberou construir uma grande estátua de ouro para honrar a si mesmo. Tendo cerca de 30 metros de altura por 3 de largura, seriam condenados à morte numa fornalha de fogo ardente todos os que, ao som de determinados instrumentos, não se prostrassem perante ela. A análise expositiva que intentamos fazer tem início no verso 12.
Verso 12a: Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abedenego;
Em primeiro lugar repare que os três homens, os companheiros de Daniel, eram judeus, ou seja, eram estrangeiros dentro daquele país, e, mesmo assim, foram constituídos sobre os negócios da província. Eles não ocupavam cargos altos em razão de quaisquer privilégios junto ao rei, mas porque eram capacitados para isso.
O povo de Israel, no AT, era o povo escolhido de Deus da mesma forma que hoje a Igreja o é, sendo esta formada por todos aqueles que aceitaram Jesus como Senhor de suas vidas.
O povo de Deus não deve ser apenas diferente, mas fazer a diferença. Devemos brilhar como luzeiros e levar sabor como faz o sal. Tudo o que fizermos deve ser feito da melhor maneira, como se fizéssemos ao Senhor. Apesar da humildade prescrita aos cristãos, e com perfeição demonstrada em Jesus, o natural é que sejamos cabeça e não cauda. Esta, aliás, é uma promessa de Deus.
Verso 12b: esses homens, ó rei, não fizeram caso de ti; a teus deuses não servem, nem a estátua de ouro, que levantaste, adoraram.
Essa parte do versículo demonstra que os três homens não procuravam agradar ao rei conforme o costume mundano: Abrindo mão de suas próprias convicções para dar lugar a falsos afagos e adulações. Eles nem sequer serviam aos mesmos deuses que Nabucodonosor. Eram pessoas seguras – seguras não em si mesmas, mas em Deus, quem de fato as havia colocado naquelas posições dentro da estrutura administrativa de Babilônia – razão pela qual não precisaram mudar sua identidade, deixar de ser quem elas eram, para se manterem no poder.
A conduta e o estilo de vida dos três, contudo, despertava inveja em quem estava ao redor. Sabemos que eram homens abençoados por Deus com capacidade e competência, e isso fazia com que fossem alvos preferenciais de outras pessoas, as quais os observavam atentamente sempre buscando uma falha que os pudesse incriminar.
Verso 15:Agora, pois, se estais prontos, quando ouvirdes o som da buzina, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, para vos prostrardes e adorardes a estátua que fiz, bom é; mas, se a não adorardes, sereis lançados, na mesma hora, dentro do forno de fogo ardente; e quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?
O rei Nabucodonosor convocou os três judeus à sua presença, declarou que seriam lançados no fogo ardente se não se prostrassem e adorassem a estátua de ouro após ouvirem os sons dos instrumentos, e finalizou realizando um desafio ao Deus Altíssimo: Quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?
Ao desafiar o Deus dos três, o rei intentava impressioná-los de modo a demovê-los da conduta de subversão. Qualquer um se sentiria amedrontado diante de uma declaração tão ousada. Com efeito, se, quando criança, alguém, além de te ameaçar, dissesse que seus pais não poderiam fazer nada para impedi-lo, seguramente seu temor seria ainda maior.
Entretanto, o Deus de Sadraque, Mesaque e Abedenego não era apenas um pai, mas o Senhor e Criador de todo o Universo, de modo que sem nenhum receio poderiam entrar em defesa daquele em quem tanto confiavam, listando os grandes feitos que o Altíssimo operara no passado em favor de seu povo.
Verso 16: Responderam Sadraque, Mesaque e Abedenego e disseram ao rei Nabucodonosor: Não necessitamos de te responder sobre este negócio.
O que vemos nessa resposta constitui-se lição para muitas situações que vivenciamos no cotidiano: Os três abriram mão de realizarem a defesa de Deus perante o rei, pois Deus é o que é, não precisa ser defendido.
Com efeito, em toda a Bíblia percebemos uma lógica a qual indica que Deus não quer que sejamos seus advogados, mas testemunhas!
Verso 17-18: Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará do forno de fogo ardente e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.
Sadraque, Mesaque e Abedenego, como disse, se absteram de defender aquele que não necessita ser defendido, afinal ele é Juiz e não réu. Através da resposta que deram nesses versículos percebemos que os três, em vez da defesa, tomaram a resolução de se mostrar testemunhas de Deus através da fidelidade a Ele.
É importante dizer que na mente dos três não pairava a certeza de que Deus os livraria da morte pelo fogo caso fossem lançados no forno em razão se não se submeterem à vontade do rei. Ao contrário, eles sabiam que o Altíssimo poderia deixar de perecessem daquela forma, mas, mesmo assim, estavam dispostos a serem queimados a abandonarem a fé.
Infelizmente muitas pessoas acabam por omitir o versículo 18, alegando que seria falta de fé pensar que o que desejamos pode dar errado. Essas pessoas pensam que fé é o poder que nos permite conseguir tudo o que queremos, quando, na verdade, biblicamente entendemos que através da fé alcançamos tudo o que Deus quer para nós.
Verso 22: E, porque a palavra do rei apertava, e o forno estava sobremaneira quente, a chama do fogo matou aqueles homens que levantaram a Sadraque, Mesaque e Abedenego.
O rei pressionava em demasia que seus oficiais lançassem os três amigos dentro do forno. O fogo, por sua vez, estava muito mais quente que o habitual. Tamanha foi a pressão sobre os carrascos, que estes se aproximaram sobremaneira da boca da fornalha, pelo que foram mortos pelas chamas.
Nosso Senhor Jesus certa vez disse que os escândalos são inevitáveis, mais ai daqueles que os cometessem. De semelhante modo, alguém teria que lançar os servos de Deus no forno, mas ai deles!
Todos nós temos responsabilidade por nossos atos, sejamos convertidos ou não, tenhamos ou não o Espírito Santo para nos orientar. Não haverá desculpas no grande dia, no dia em que estaremos todos diante do tribunal de Cristo! Ninguém poderá se escusar por ter feito ou deixado de fazer algo em razão de não saber que a ação ou omissão constituía falhas perante a vontade do Pai.
Versos 24-25: Então, o rei Nabucodonosor se espantou e se levantou depressa; falou e disse aos seus capitães: Não lançamos nós três homens atados dentro do forno? Responderam e disseram ao rei: É verdade, ó rei. Respondeu e disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nada há de lesão neles; e o aspecto do quarto é semelhante ao filho dos deuses.
Uma vez lançados os três dentro do forno, o que se seguiriam seriam gritos de agonia e dor – pelo menos assim pensou o rei. Contudo, percebendo que isso não ocorreu, levantou-se e olhou para dentro, pelo que notou que os três homens estavam soltos, e passeavam dentro da grande fornalha acompanhados por um semelhante ao filho do deuses, conforme as palavras de Nabucodonosor.
Há quase uma unanimidade entre os estudiosos da Bíblia de que esse quarto era o próprio Jesus! O Senhor não impediu que fossem atingidos pela tribulação, mas passou junto com eles. Houve um grande livramento, um milagre!
Sabemos que nem sempre isso ocorrerá. São muitas as ocasiões em que o Senhor permite que as chamas consumam o corpo. Mas mesmo nesses casos, as Sagradas Escrituras garantem que Jesus continua ao nosso lado. São estas as palavras dele: E estarei convosco desde agora até a consumação dos séculos.
Verso 28-29: Falou Nabucodonosor, dizendo: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, que enviou o seu anjo, e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois violaram a palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, para que não servissem nem adorassem algum outro deus, senão o seu Deus. Por mim, pois, é feito um decreto, pelo qual todo o povo, e nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas um monturo; porquanto não há outro Deus que possa livrar como este.
A coragem dos companheiros de Daniel, preferindo entregar-se à morte a servir outros deuses, aliada ao miraculoso livramento que receberam, testemunharam a poderosa ação divina: primeiro sobre a personalidade dos três, conferindo-lhes firmeza de caráter; e, segundo, a possibilidade da ação sobrenatural.
Sejamos como Sadraque, Mesaque e Abedenego, os quais, mesmo diante da morte não amaram mais as próprias vidas que a Deus. Eles sabiam que as tribulações neste mundo, apesar de dolorosas, são momentâneas; e em nada se comparam ao prêmio eterno de glória que nos espera no Céu.
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