Culto a Deus: Racional ou Emocional?
Essas questões aparecem naturalmente na cabeça de cristãos maduros quando examinam a diversidade de formas de culto ao Senhor. Se em um extremo observamos a atribuição do sobrenatural a copos d’água, feijões ungidos, sonhos e a uma profusão de manifestações corporais e orais realizadas dentro de denominações pentecostais e neopentecostais como decorrentes de uma suposta ação do Espírito Santo, no outro extremo notamos rituais engessados invariavelmente sustentados por inúmeros preceitos e regras de conduta incutidos por algumas igrejas evangélicas tradicionais.
Não é minha pretensão emitir qualquer juízo de valor sobre a correção de tais práticas aos olhos de Deus, posto que a lógica divina suplanta, transcende a nossa compreensão. É necessário dizer, por outro lado, que quando as ações são claramente condenadas pela Bíblia, não há o que discutir: São heréticas e devem, sem tardar, ser deixadas de lado. O viés que desejo abordar prende-se em expor uma resposta clara e objetiva sobre se o nosso relacionamento com Deus deva se guiar pela razão ou pela emoção.
Em Romanos 12:1 temos: Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Eis a resposta para a nossa questão? Sim, com ressalvas. É preciso que falemos mais a respeito das implicações.
A emoção, ao lado da razão, são duas orientações, dois parâmetros, pelos quais lidamos com os acontecimentos que nos chegam ao conhecimento. Elas são opostas e complementares, essenciais para a formação da nossa personalidade. Em termos aceitáveis, a emoção faz-nos encarar os dados da realidade extraídos pela razão - com ou sem interferência dela - amplificando ou diminuindo as sensações: Levando-nos do êxtase ao desencanto. Ao contrário, a razão é sempre fria, calculista e imparcial.
Diante dessa caracterização, não há o que discutir no tocante à primazia que deve ter a razão sobre a emoção. A nossa natureza caída, porém, sempre deturpará as ferramentas mentais e psicológicas dadas por Deus, com o intuito de usá-las contra o Criador. Quanto a isso, a razão nos coloca armadilhas pelo caminho: Em primeiro lugar, uma previsível inclinação à soberba. Paulo nos adverte desse perigo em 1 Coríntios 8:1-2: Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber. Pelos mecanismos inerentes da razão alcançamos conhecimento; mas o conhecimento, por si só, não edifica.
Em segundo lugar, tentados a achar que temos conhecimento suficiente acerca das coisas de Deus, podemos ser dissuadidos a ir além, perdendo o interesse em alçar voos mais altos. Pensando já ter tudo o que Deus desejaria nos oferecer, perdemos o ímpeto de orar e bloqueamos a abertura para o agir sobrenatural em nossas vidas.
À vista de tudo, penso que o nosso relacionamento com Deus deve obviamente ser orientado pela razão, através do exame de tudo e da retenção do que é bom (1 Tessalonicenses 5:21), mas sempre dando espaço para a espiritualidade a fim de que o sobrenatural de Deus opere sobre nós. É claro que a emoção não pode ser expurgada disso tudo, e nem é possível; mas devidamente modulada e vistoriada pelo bom senso.
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