Podemos perder a salvação?

 

Os calvinistas dirão que não; não é possível perder a salvação. Para sustentar essa posição, muitos recorrem ao que o Senhor Jesus afirma em João 10:27-28: As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Geralmente, a bem da verdade, citam o verso 28, não o 27.

De fato, se considerarmos apenas o 28, poderemos concluir que uma vez não mãos do Senhor, ninguém, ou nada, poderá delas nos arrebatar. Porém, as ovelhas que estão em condições de se regozijar disso são aquelas que ouvem a voz do Senhor e seguem-no.

Alguém poderá replicar: Desde que salvação não se conquista mediante obras, mas por meio única e exclusivamente da fé, o que faríamos para perdê-la? Em outros termos, se não é fazendo o bem que sou salvo, por que razão perderia esta condição ao deixar de fazê-lo? Se fosse assim, acrescentaria o interlocutor, eu poderia me gloriar por ser capaz de manter a herança que de graça recebi.

Antes de tudo, necessário se faz reconhecer que não estamos diante de um entrevero simples. Mas não podemos adotar a postura propalada pelos calvinistas cegamente jogando para baixo do tapete várias passagens na Bíblia que fornecem indícios robustos acerca da possibilidade de perda da salvação. Colocaremos para apreço duas delas:

1.      Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mateus 7:21-23)

2.      Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. (Hebreus 10:25-27)

Considerando a passagem registrada em Mateus, ela nos encoraja a indagar: Se uma vez salvos, para sempre salvos, e desde que a salvação é uma graça alcançada mediante a fé, o que dizer daqueles a quem o Senhor se refere? Duas coisas são evidentes a partir do excerto: Eles criam em Jesus, vez que no grande Dia, ao com Ele se depararem, o chamarão de Senhor, e não são repreendidos por uma suposta hipocrisia ou dissimulação; o destino de todos eles é queimar no fogo preparado para os adversários. Se criam em Jesus, em algum momento puderam vislumbrar a salvação. Além do mais, eram usados por Deus para a realização de obras todas elas em nome de Jesus: Efetuando milagres, expulsando demônios e verbalizando profecias. No entanto, em razão de terem insistido em proceder malignamente, serão rejeitados por ocasião do juízo final.

Por sua vez, a passagem em Hebreus vem reforçar ainda com maior contundência o argumento de que a salvação pode, sim, ser perdida. Ela nos fala que, após termos recebido o conhecimento da verdade - a saber, de que Deus enviou seu único filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16) - se pecarmos de nossa própria vontade não haverá mais sacrifício a ser feito, restando-nos horrível expectação pelo que há de vir.

A palavra de Deus nos dá a entender que, conquanto a salvação seja pela graça, e não nos dada como pagamento em função da prática de boas obras, podemos perdê-la. Em uma figura usada por alguns pregadores, se ela pode ser vista como um presente do Rei a um mendigo o qual por fé estende as mãos para recebê-lo, acrescento que esse mesmo mendigo poderá recusá-lo segundo sua própria vontade.

Para que esse argumento se sustente, é preciso ampliar o significado do termo fé. Não poderemos entendê-la como uma mera declaração de crença, pois pode se tratar apenas de palavras vazias jogadas ao vento; mas como a manifestação de uma convicção firme e inabalável das coisas que esperamos (Hebreus 11:1), nomeadamente a ação e a vontade de Deus e do nosso Senhor Jesus. Quando, em Marcos 16:16, o Senhor afirma que todo aquele que crer e for batizado será salvo, Ele se refere a quem crê nele como Senhor, e não apenas como Deus, pois o ato de crer, segundo esta última acepção, é praticado até mesmo pelo Diabo.

Crer em Jesus como Senhor implica se submeter às suas vontades como servo e escravo - ainda que saibamos que Deus, em sua infinita misericórdia nos fez coerdeiros de Cristo no Reino - aceitar a obra por Ele realizada na cruz, e efetivamente colocá-lo em primeiro lugar em nossas vidas. Recordemos que as ovelhas privilegiadas por não poderem ser arrebatadas das mãos do Senhor são aquelas que ouvem a sua voz, isto é, que se interessam pelo que Ele lhes fala, e o seguem,  procurando orientar suas vidas pelos caminhos do Mestre.

Por fim, trarei outra fala a respeito dessa temática com o intento de encerrar essa argumentação. Em Romanos 6:15-16 temos: Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum! Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?

Buscando refrear os desejos carnais após a exposição a respeito da salvação pela graça, e ocupar os espaços espreitados pela libertinagem, o apóstolo Paulo diz que não é porque não somos salvos pelas obras que poderemos nos deleitar em prazeres mundanos. Ao contrário, se decidirmos que teremos uma vida orientada por esses desejos, faremos do pecado o nosso senhor, e dele seremos escravos. Mas o pecado conduz à morte. De outro lado, a convicção que temos em Deus como o Senhor e Criador de tudo o que há, e em seu filho Jesus pela obra redentora e salvífica, manifesta na obediência à vontade divina, nos possibilitará lograr a justiça.

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