O mundo está fadado ao fracasso?
Dizer que o mundo está fadado ao fracasso significa afirmar que ele não dará certo. Quando mencionamos o mundo, referimo-nos, é claro, às pessoas que habitam este planeta, à sociedade como um todo, fruto da consideração de todas as comunidades que formam os países, em conjunto.
Se há expectativa de que ele, o mundo, dará certo, fica subentendido que atualmente ele esteja salpicado por um ou mais problemas. De fato, há vários, talvez inumeráveis, problemas que teimam em nos afligir, angustiar e tirar-nos a paz. Para efeito de ilustração, podemos citar a criminalidade nas ruas, doenças físicas e psíquicas, desigualdade econômica, desigualdade de gênero e desigualdade racial.
A criminalidade que se observa nas ruas, isto é, fora das residências, abarca qualquer delito, qualquer ato ou omissão que transgrida a lei. Embora possamos pensar no trânsito de veículos que realizam manobras proibidas as mais diversas - como a ultrapassagem dos limites de velocidade permitidos nas vias por onde trafegam - os casos mais simbólicos dos crimes que têm lugar fora, ou mesmo que procedem de indivíduos que não moram conosco, são as várias espécies de roubo, como o assalto. Especialmente para pessoas que moram em regiões conflituosas, ou próximas a elas, há também o temor de serem alvos das chamadas balas perdidas. Enfim, há várias razões para que a paz se mantenha distante de nós no que tange às ameaças da criminalidade.
Quando algum meliante pratica assalto, trafica drogas ou realiza sequestro, ele o faz por pelo menos três motivos: Ele deseja o dinheiro ou bem material que a vítima pode oferecer; a empatia que tem por ela não é suficiente para lhe aplacar a vontade de proceder de forma má; não teme a eventuais punições de autoridades. O desejo desenfreado por dinheiro não é maior que o de um exitoso empresário que orienta seu agir sempre em respeito à lei. Por isso, não se pode apontar que o crime tenha sido cometido necessariamente em virtude do anseio de aumentar o poder aquisitivo, e com tal apoderar-se daquilo que pretende fruir.
É evidente, por seu turno, que o temor a punições impostas por uma autoridade crescerá na mesma medida da dor, física ou psicológica, que uma eventual condenação poderia trazer. Mas o rigor da punição por si só não seria efetivo em um país que fosse incapaz de indiciar os culpados; quero dizer, se as diligências se mostrarem ineficientes para apontar os praticantes do crime, haverá sempre uma esperança, por quem o pretende levar a cabo, de que se safarão das condenações, redundando na não inibição de atos ilícitos, por mais duras que sejam as penas.
Doenças podem ser causadas por patógenos de várias espécies, indo desde a invasão de micro-organismos como vírus e bactérias, a produtos químicos como aqueles oriundos do consumo de tabaco, e mesmo presente em alimentos industrializados. As enfermidades físicas e psíquicas provocadas por patógenos, desequilíbrios bioquímicos ou defeitos genéticos não cessarão de existir: primeiro porque nunca seremos imortais, pois o pecado que entrou no mundo através de Adão propiciou a maldição da morte sobre todo aquele que vive (Romanos 5:12); segundo, pois as pestes nunca deixarão de existir (Mateus 24:7).
A pobreza sempre existirá porque ela tem de ser vista como um estado relativo. A estratificação da sociedade é uma consequência direta do fato de não haver nenhum esforço no sentido de planificá-la. Uma planificação exigiria um modelo econômico que fosse distinto do capitalismo, quem sabe o socialismo; mas isto é rechaçado por quase todas as pessoas e autoridades do mundo. Em resumo, enquanto o capitalismo prevalecer, as sociedades serão divididas em classes segundo o poder aquisitivo; e isso não mudará, pois um sistema comunista colide frontalmente com a índole gananciosa, avarenta e hedonista humana – gananciosa porque somos movidos pelo desejo de suplantar os demais, seja em um ou outro aspecto da vida; avarenta em razão de sermos excessivamente apegados às riquezas; e hedonista devido à louca e insaciável busca pela fruição dos prazeres sensoriais.
Há uma palpável expectativa de que as desigualdades de gênero e racial sejam gradualmente mitigadas com o correr do tempo, contanto que manifestações públicas continuem a ocorrer como demonstração do descontentamento com a discriminação injusta e desarrazoada entre homens e mulheres no trabalho, e entre pessoas como consequência da distinção de cor de pele, etnia e procedência nacional. Há, contudo, algo mais a falar sobre a primeira delas, muito por causa das sutilezas ali envolvidas: mulheres e homens não se diferenciam um do outro através apenas do sexo. Isso é evidente para qualquer pessoa, mas o que se quer ressaltar é o papel incumbido a cada um deles por Deus, algo certamente que não tem origem circunstancial – a circunstância aqui é o fato de um ser macho e o outro, fêmea.
Quando a bíblia declara que a mulher deve ser submissa ao marido (Efésios 5:22), e que não falem dentro das igrejas, onde ficarão em silêncio (1 Coríntios 14:34), o apóstolo Paulo, comunicador dessas advertências, claramente afirma que tais preceitos vêm do Senhor (1 Coríntios 14:37), ou seja, não procedem da carne. Assim, não se pode levantar qualquer possibilidade de serem ordens emanadas para aquelas igrejas em específico – dos coríntios e efésios – nem tampouco apenas para aquela época com o eventual intuito de não se chocar com uma cultura casualmente hostil a uma maior liberdade feminina. A pergunta que se faz é: Quais serão as consequências de uma possível inversão de papeis dentro do matrimônio, ou mesmo de uma empoderação ilegítima da mulher no casamento?
Retomando os problemas levantados no início da discussão, conclui-se que as desigualdades racial e de gênero poderão ser gradualmente abrandadas, muito embora o prognóstico para a emancipação feminina nos termos atualmente colocados não seja nada bom; a pobreza, compreendida como característica das pessoas alocadas nos mais baixos estratos sociais jamais deixará de existir devido à prevalência do modelo econômico capitalista; as enfermidades, a despeito do incessante desenvolvimento de medicamentos, insistirão em nos flagelar enquanto vivos estivermos; e a violência provocada pelos tráficos de drogas e de qualquer outra mercadoria ou serviço, assim como outras causas decorrentes da má índole do ser humano, não desaparecerá por completo, mesmo que os índices de ocorrência tendam, ao menos momentaneamente, a diminuir com o aumento da severidade das punições e a melhora da capacidade de investigação e descoberta dos praticantes dos delitos.
Não obstante seja por demais simples, essa análise corrobora a ideia a qual deve esposar todo cristão de que esse mundo não tem jeito; não estamos em um crescente de paz e alegria, em que pese todo o avanço científico e tecnológico, e nunca atingiremos o ápice da perfeição em termos civilizatórios e individuais. A considerar que nem mesmo mencionamos a degradação moral intensificada pela inversão dos valores, a qual tem efeitos existenciais profundos e humanamente insolúveis, não poderemos ter outra conclusão senão a de que não pode haver sequer um átomo de boas expectativas para nós, nossos filhos e netos. O apóstolo Paulo há quase 2000 anos disse que se a nossa esperança em Cristo se limita a essa vida, então somos as pessoas mais infelizes do mundo.
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