Deus predestinou quem há de ser salvo?
Esta é uma questão algo complexa. A Bíblia claramente afirma haver uma predestinação, como exposto em Efésios 1:4-5: Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade. A determinação prévia, entretanto, ocorreu a nível pessoal – escolhendo, desde o início, cada pessoa que seria salva dentre os destinados à perdição – ou a eleição se deu para o grupo de pessoas que, enquanto grupo, pela própria vontade se renderiam a Jesus como Senhor e Salvador?
Adianto que não entrarei no mérito dessas questões, nem tampouco as esmiuçarei levando cada uma ao limite de implicações. Particularmente, penso que há várias razões para acreditar que não haverá qualquer tipo de injustiça no dia do juízo. Nesta ocasião, ninguém honestamente poderá se queixar de não ter tido oportunidades suficientes para ter se convertido. Todas as pessoas terão, não o mesmo número de oportunidades, mas cada uma terá as que lhe bastariam para se arrepender dos maus caminhos e crer no Senhor.
Tenho que admitir, é verdade, que a Bíblia fornece elementos que endossam a crença numa escolha, numa eleição divina, como relatado em João 6:44: Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. De modo similar, podemos considerar as várias ocasiões em que Deus endureceu o coração de Faraó para que este não cessasse as perseguições contra o povo hebreu. Ou mesmo o que escreve Paulo em Romanos 9:6-22, especialmente no verso 16: Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
Ainda assim, continuo com a firme convicção de que ninguém, no grande dia, poderá se queixar de que a sua liberdade de escolher entre os dois caminhos – salvação e perdição – foi tolhida ou de algum modo enviesada. O livre arbítrio existe, e é um fato reconhecido por todos em seus afazeres cotidianos. Embora aparente haver alguma contradição entre esta afirmação e os versículos citados no parágrafo anterior, não creio que efetivamente há; a lógica de Deus suplanta a nossa limitada capacidade de entendimento: Assim como os céus são mais altos que a terra, assim são os meus pensamentos mais altos que os seus pensamentos, e os meus caminhos mais altos que os seus caminhos, diz o Senhor (Isaías 55:9).
Na vida cristã, especificamente no que tange à pregação do evangelho, devemos seguir as pegadas deixadas por Jesus. Em todas as vezes que ministrava a palavra, realizava maravilhas ou falava acerca do Reino, ele não demonstrava fazer juízo prévio entre quem havia de ter parte no céu e os demais. Ele falava a todos, sem distinção, inclusive fazendo duras repreensões ao impenitentes fariseus. A este respeito, indaga-se: Quantas vezes pregar o evangelho a uma mesma pessoa? A Bíblia sugere duas ou três vezes, mas penso que devamos sempre optar por fazer aquilo que acharmos ser o correto, acreditando estarmos sendo guiados pelo Espírito Santo. Então, se acharmos que nunca deveremos parar de falar de Deus a um incrédulo, assim devemos fazê-lo.
Parece-me que a pregação do evangelho diz muito mais respeito a nós mesmo que aos outros – embora, é claro, não deva menosprezar os efeitos das boas novas sobre a vida das pessoas, como falarei a respeito em outra questão. Para se convencer disto basta pensar que ela foi confiada apenas aos homens, não tendo os anjos qualquer incumbência quanto a isso. Em Atos 10 lemos que um anjo apareceu a um centurião romano temente a Deus, e lhe declarou que procurasse Pedro em uma localidade próxima de onde morava. Para quê? Para Pedro lhe anunciar as boas novas. É evidente que o próprio anjo poderia ter anunciado ao centurião a mensagem da cruz, mas aprouve a Deus que Pedro o fizesse.
Não é difícil aceitar que nem todas as pessoas terão a oportunidade de ouvir qualquer palavra que esteja embasada na Bíblia, e muito menos serão os que ouvirão o evangelho da redenção. Segue-se disso que é razoável pensar que o ouvir e o acolher a palavra de Deus não sejam condições necessárias para a salvação, pois, se assim o fosse, aqueles que não tiveram oportunidade de conhecê-la poderiam disso se queixar no juízo. Quanto a isto, leiamos Romanos 1:20: Porque as coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis. Portanto, não haverá desculpa no grande dia para os que não se sujeitaram ao Criador, pois a própria criação aponta para seu eterno poder.
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