Uma genuína intercessão

 

Texto base: Neemias 1:6-7


            Deixe-me contextualizar a situação, trazendo alguns elementos circunstanciais fundamentais para compreender o peso, a amplitude, a nobreza e a relevância da ação de Neemias para todos os que tencionem se proclamar cristãos.

            Neemias estava em Susã (v. 1), capital do Império Persa, na ocasião em que dirigiu a Deus a oração alvo de nossa meditação. Esse império é o sucessor por excelência do Reino Babilônico, por ter sido capaz de derrotar e anexar todas as posses deste. A Babilônia, sob a liderança do rei Nabucodonosor, alguns anos antes de sucumbir à Pérsia, conquistou o Reino de Judá e devastou por completo sua capital, Jerusalém, derribando inclusive o templo erguido por Salomão.

            Sucede que a destruição de Jerusalém foi um acontecimento várias vezes prenunciado pelo profeta Jeremias como sendo um juízo a acometer os judeus em razão da obstinação demonstrada em continuar na idolatria e não seguir a lei estabelecida por Deus mediante Moisés. Realmente não foram poucas as oportunidades nas quais o profeta anunciou ao povo e a seus líderes da catástrofe que adviria se não se convertessem de seus maus caminhos. A renitência de todos foi tão grande a ponto de mandarem encarcerar Jeremias para que cessassem os amargos presságios que proferia.

            Como não se arrependeram e não se voltaram ao Senhor, sobreveio-lhes o terrível juízo. Nabucodonosor destruiu toda a cidade, levou consigo os utensílios do templo, dizimou milhares e arrastou para a Babilônia muitos judeus, dentre eles os membros da realeza e das famílias mais nobres, como os ainda meninos Daniel, Sadraque, Mesaque e Abedenego. Divinamente inspirado, Jeremias profetizou que o período de cativeiro duraria por volta de 70 anos.

            Analisando o livro que leva seu nome na bíblia, percebemos que Neemias esteve diretamente ligado ao retorno para Jerusalém após o cativeiro, e subsequente reconstrução da cidade, a começar pelos seus muros. Por esta razão, não é de se crer que tenha presenciado a invasão da cidade pelos babilônios, nem tampouco que tenha tido parte nos pecados que levaram o povo de Deus a receber tão severo tratamento. É justamente esse o ponto principal da reflexão. Tomemos o texto:

Versos 6-7: Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para ouvires a oração do teu servo, que hoje faço perante ti, de dia e de noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, que pecamos contra ti; também eu e a casa de meu pai pecamos. De todo nos corrompemos contra ti e não guardamos os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos que ordenaste a Moisés, teu servo.

            Neemias tece a Deus uma oração de intercessão pelo povo de Israel ante o estado de absoluta miséria em que se encontravam seus compatriotas em Jerusalém (v. 3). Mesmo, talvez, nunca tendo pisado naquelas terras, e vivendo em situação seguramente confortável em terras estrangeiras, solicita ao rei da Pérsia que o envie à terra de seus pais (v. 2:5).

            Em sua oração, toma as dores do povo para si, não se exclui do número dos que praticaram as más ações. Mas qual pecado Neemias cometeu? Ele sequer havia nascido para que suas obras se juntassem às de seus pais e fizesse juízo cair sobre Israel! Não obstante isso, não se vê em melhor condição que seus irmãos; ao contrário, lamenta-se, chora e intercede a Deus clamando por misericórdia.

            Quantos de nós temos essa postura de Neemias? Certamente poucos, pouquíssimos. No mais das vezes, quando percebemos que um irmão está em pecado, entre as nossas primeiras ações está o apontar o dedo. É verdade que o pecado não pode ser tolerado, mas quando coisas assim têm lugar, em vez de tristeza, por pouco – por muito pouco – não vemos sorrisos estampados nos rostos daqueles que não incorreram em tal erro. Quando um conhecido irmão da fé cai, quando se afasta dos caminhos do Senhor, irrompe-se um certo júbilo nas rodas de conversa disfarçado de uma hipócrita tristeza. Fatos novos como esses nos alegram, nos contentam. Como novidades dessa natureza amaciam nosso ego... . De fato, quando o outro peca o pecado está nele, não em mim. Como somos tentados a, à semelhança do fariseu, orar a Deus agradecendo por não sermos como fulano ou beltrano, que vivem entregues às suas concupiscências... .

            Não, não oramos por eles. Não oramos pedindo a Deus que os converta. Não demonstramos o menor sinal de compaixão. Quantas vezes nos pegamos difamando um irmão com cujas ideias e ações não compactuamos... . Meus Deus, tenha misericórdia de nós! Quão pecadores somos! Aperfeiçoe-nos, faça-nos, nesse aspecto, como Neemias; que possamos ser tomados também pela dor do outro, e sejamos capazes de dirigir ao Senhor uma genuína intercessão. Amém.

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