O povo que herdará o Reino

 

Texto base: Sofonias 3: 9-15

 

 

            Certa vez, enquanto atentava a uma de suas pregações, ouvi de Augustus Nicodemos – um importante e aparentemente sincero pastor vinculado à Igreja Presbiteriana - que no Céu não encontraremos pessoas orgulhosas, como que batendo no peito e exaltando-se por terem alcançado tamanha vitória, dadas as muitas privações que tiveram de passar e imensurável esforço que tiveram de empreender para lograr tal êxito. Mandamentos obedecidos, obras de caridade incontáveis, alimentos e bebidas da dieta banidos, jejuns, campanhas de oração na igreja, em casa, nos montes, vestimentas utilizadas. Enfim, uma lista abarrotada de obras executadas com louvor.

            Ao contrário, Nicodemos declarou que estarão no Reino junto a Jesus apenas pessoas profundamente gratas pela salvação; gratas a Cristo porque foi mediante sua morte, seu sacrifício, que os pecados delas foram expiados. O orgulho dará lugar à humildade, pois saberão que não se encontram lá em razão de terem sido boas ou merecedoras, mas devido aos méritos daquele que morreu na cruz.

            Muito embora essa afirmação não possa ser expressamente encontrada na Bíblia, ninguém pode discordar de que é compatível com o Evangelho. De fato, se nos fosse possível alcançar o Céu por via do cumprimento dos mandamentos e realização de boas obras, Deus não teria enviado seu filho para ser sacrificado. A obra de Cristo ocorreu para pagar pelos pecados – não os dele pois não tinha, mas os nossos - vez que o salário do pecado é a morte.

            Vejamos um vislumbre, entregue por Deus a um de seus profetas, acerca da condição daqueles que hão de morar no Céu:

Verso 9: Então, darei lábios puros aos povos, para que todos invoquem o nome do Senhor e o sirvam de comum acordo.

Duas coisas importantes são ditas neste versículo: Primeiro, Deus dará lábios puros aos povos. Isso só será possível porque o pecado será extirpado do coração das pessoas, e quando falo pecado nesse contexto me refiro à propensão para pecar, para desagradar a Deus, para tropeçar nos mandamentos. Todos temos essa tendência para o mal, nascemos com uma inclinação natural para satisfazer as vontades da carne, as quais se conflitam com as do Espírito. Apesar de sermos libertos do domínio absoluto do pecado com a conversão, não deixamos, contudo, de ser palco para um embate entre as duas vontades. O verso em causa nos diz que, no Céu, estaremos de uma vez por todas distantes da influência do Maligno.

Em segundo lugar, no Céu serviremos a Deus de comum acordo. Infelizmente estamos muito distantes de contemplar isso aqui. Não há unidade entre os cristãos em geral, nem mesmo dos católicos com eles mesmos tampouco entre os próprios evangélicos. São muitas as denominações, variadas as doutrinas; como se não soubéssemos que há, verdadeiramente, uma única Igreja, o corpo do qual Cristo é a cabeça. A mensagem não deixa dúvidas de que a heterogeneidade e falta de concordância decorrem do pecado.

Sucede que, em razão do pecado que ainda habita o nosso coração, não apenas há uma grande diversidade de sistemas e doutrinas nas igrejas, como também desavenças entre elas. Notamos em profusão rivalidades entre pastores e líderes espirituais e denominações que não reconhecem membros de outras como sendo igualmente cristãos; isso tudo por conta do amor ao dinheiro, pois brigam entre si para atrair fiéis umas das outras.

Verso 11b: Então, tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no meu santo monte.

É sabido que Deus resiste aos soberbos e vaidosos. Esse trecho da profecia declara que serão retirados do meio do povo que há de herdar o Céu todos os que se alegram na sua soberba, de maneira que a autoexaltação não seja vista no Céu, corroborando a fala de Nicodemos.

Verso 12: Mas deixarei, no meio de ti, um povo modesto e humilde, que confia em o nome do Senhor.

Estarão no Céu apenas pessoas humildes, modestas, profundamente gratas por receberem esse presente. Agradecidas a Deus, pela benignidade e misericórdia, e a Jesus, por ter morrido por elas. Pessoas que não confiaram em si mesmas, mas lançaram suas preocupações sobre as potentes mãos do Senhor.

Verso 13: Os restantes de Israel não cometerão iniquidade, nem proferirão mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa, porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante.

Há duas informações relevantes neste versículo: Não estarão entre os herdeiros qualquer que comete iniquidade, que entrega profecias ilegítimas e que levantam falso testemunho. Essa é uma verdade a qual todos sabemos, pois sabemos que sem santidade ninguém verá a Deus (Hb 12:14).

        A outra informação a que me refiro relaciona-se com a manutenção do pecado mesmo entre os convertidos, o Israel da nova aliança; associa-se à persistência da transgressão no corpo de Cristo, isto é, entre os salvos. Deus declara que os desobedientes, os falsos profetas e os mentirosos só existem no interior da Igreja porque não são cuidados, apascentados, porque vivem em constante espanto, medo e insegurança.

        Os desobedientes, os falsos profetas e os mentirosos, contudo, não estão nessa condição de rebeldia contra Deus por serem desfavorecidos na congregação, desatendidos, desassistidos e desamparados; eles não são coitados, vítimas inocentes das influências do Maligno. A rebelião contra o Senhor ocorre precisamente porque se recusam a ser apascentados pelo Espírito Santo, rejeitam ouvir a voz quando Ele lhes fala, endurecem o coração para que a palavra do Evangelho não tenha penetração e por conseguinte influência eficaz.

        Os culpados são eles mesmos; se de um lado são vítimas, de outro são coparticipantes e cúmplices da depravação do coração.

Verso 15: O Senhor afastou as sentenças que eram contra ti e lançou fora o teu inimigo. O Rei de Israel, o Senhor, está no meio de ti; tu já não verás mal algum.

No Céu estaremos livres das maquinações do Inimigo, o Senhor Jesus estará ao nosso lado, pelo que todo o temor perderá o sentido. Limpos e remidos, justos e santificados, o mal será finalmente retirado do nosso meio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Predileção pelos Domésticos da Fé

Miserável Homem