O significado de Cristo para os cristãos
Texto base: Isaías 53:1-5
O livro do profeta Isaías foi por ele escrito por volta de 700 anos antes de Deus encarnar na forma humana e habitar entre nós. Cristo, o filho do Deus vivo, veio como um cordeiro o mais pacífico e manso fazer morada em terreno de lobos devoradores.
O texto em análise tem início com uma, por assim dizer, lamentação de Deus face à forma como sua mensagem foi por aqui recebida: Quem deu crédito à nossa pregação? Embora admita a possibilidade de ser lida de outras formas, considerando todo o contexto que a antecede e a segue, percebo uma real lamentação – como já afirmei – e não uma advertência de juízo vindouro mediante uma pergunta retórica. Ao lamentar, Deus sofre, como se chorasse por ser afligido por tamanha indiferença, da parte de alguns, e repúdio, da de outros. Quando pondero que o Todo-Poderoso, em toda sua sublimidade, não necessita em absoluto de nós, e, não obstante, se sujeita a correr atrás de um povo que o rechaça, percebo e me comovo com tão grande amor.
O profeta continua, dizendo: Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos para que o desejássemos. O nosso Senhor Jesus andou por esse mundo no corpo de alguém fraco, compleição debilitada, franzino em sua estrutura. Ademais, tinha a aparência de raiz de terra seca, não possuindo qualquer beleza ou formosura em seus traços. Assim ele veio para que ninguém o seguisse atraído pelo que é exterior.
Em flagrante contraste ao nosso Senhor, vemos hoje em dia líderes espirituais prezando ao extremo pela aparência que terão diante das pessoas; pelo que muitos dos quais fazem questão de se trajar com roupas nada singelas como paletó, calça social e gravata requintados, quando não ostentam anel e relógio banhados a ouro. Sendo naturalmente espelhos para a plateia, acabam por influenciá-la a seguir o mesmo fluxo impelido pela – tão combatida pela palavra de Deus – vaidade. É lastimável que a cristandade tenha, também neste aspecto, se afastado de Cristo para se aproximar ao mundo, seguindo-lhe os rudimentos, cedendo aos apelos da concupiscência dos olhos.
No verso seguinte, temos: Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Pensar que o excelso e soberano Deus se sujeitou a si mesmo a passar por tamanha humilhação, assumindo a forma do mais indigno dos homens, alguém alvo de um desprezo incomum, seguramente diminui as aflições de quem é zombado e ridicularizado por professar a fé em Cristo.
Reputado como homem de dores, somos instados a pensar em como a cristandade atualmente repugna a dor, seja ela física ou psíquica. Muitos iniciam a caminhada na fé achando que todos os seus problemas serão solucionados sem tardar; porém, com o correr do tempo tantos se frustram, pois nem sempre a nossa vontade está alinhada à vontade soberana de Deus. O mais comum é encontrar pessoas que buscam apenas as bênçãos, relegando a um lugar marginal a importância daquele que as concede. Como está ilustrado em profusão nas escrituras sagradas, o relacionamento com Deus não pode estar fundado em barganhas, vez que não serão todas as vezes que receberemos o bem por termos agido segundo o agrado do Criador.
Jesus possuía aparência nada apresentável, e seu aspecto suscitava repulsa para consigo entre as pessoas de seu tempo. Na condição de Deus, não teve por intenção receber a honra e a glória devidas; não almejou fama nem ser levado às posições sociais mais distintas. Nós, que nos dizemos seus seguidores, preocupando-nos em não macular nossa reputação perante o público, muitas vezes titubeamos em apregoar o evangelho em um ou outro ambiente; às vezes nos envergonhamos de falar de Deus às pessoas; não raro deixamos de testemunhar a nossa fé em ocasiões em que somos claramente requisitados a isso.
Prosseguindo: Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. O Altíssimo se submeteu a escárnio, opróbrio, desprezo, trabalhos árduos, dores e abandono por amor a nós; no final de tudo, o abandonamos. Não há prova maior de amor que esta: De entregar-se a si mesmo para padecer tantas aflições culminadas em morte de cruz, a fim de que através desta morte fôssemos, nós, salvos e aceitos por Deus.
Por fim: Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas enfermidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados. Depois - e em razão - da morte de Jesus não há mais nada a fazer para sermos justificados por Deus senão aceitá-la; ou seja, se antes havia algo que precisávamos fazer para ter um lugar no céu, se longas listas, implícitas e explícitas, contendo preceitos deveriam ser meticulosamente seguidas e obedecidas, agora não há mais; pois o fardo que tanto nos inquietava foi carregado por Jesus, propiciando-nos, de um lado, alívio, e de outro, a paz por saber que a salvação não depende de nós, quero dizer, de qualquer coisa que façamos, mas do que Cristo fez através de sua obra vicária.
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