Inclinas para onde?

Texto base: Romanos 8:5-9

 

 

            O processo de conversão tem início quando o Espírito Santo passa a fazer morada em nós, para usar uma expressão bastante comum no contexto evangélico. Biblicamente, diz-se que a conversão tem lugar com o novo nascimento, com o erigir da água e do Espírito, conforme atesta o diálogo entre Jesus e Nicodemos no princípio do cap. 3 do Evangelho de João.

            O apóstolo Paulo, no cap. 12 da primeira carta aos coríntios, afirma que ninguém poderia dizer Jesus é o Senhor senão através do Espírito Santo. Por esta razão, o simples fato de fazermos uma tal declaração por espontânea e alegre vontade, sem a coação de influências oriundas de costumes, tradição e superstição, já demonstra que passamos pelo novo nascimento, isto é, que o Espírito Santo habita em nós.

            Defendemos a ideia – não original, evidentemente, mas calcada em fundamentos bíblicos – de que a graça de Deus, manifesta mediante a intervenção do seu Espírito, não nos desnaturaliza, visto que continuamos a ter os mesmos impulsos pecaminosos comuns a todas as pessoas. O que muda, no entanto, é o nosso estado: Se antes éramos escravos do pecado, impossibilitados de fazer qualquer bem intrínseco movidos por nossa própria vontade, renitentes inimigos de Deus, após a conversão somos tirados do cativeiro e postos a peregrinar no deserto. Enquanto andamos em direção à Canaã celestial, nos vemos a todo momento como palco de um conflito incessante entre os desejos da cobiçosa carne e nosso convertido espírito. São aos que encontram-se nessa condição que Paulo escreve os versos sobre os quais efetuaremos a meditação.

 

Verso 5: Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.

Paulo diz-nos que aqueles que se inclinam, ou seja, cedem, aos interesses da carne passam a interessar-se pelas coisas da carne. Os interesses da carne são claros e manifestos, entre os quais estão: Riqueza, bens, poder, prazeres sensoriais. Se nos abrirmos para a discussão de tais temas em algum momento seremos por eles capturados como peixes numa rede; passaremos a cogitar, a pensar com devoção e lhes fantasiar o desfrute.

            Por outro lado, os que se inclinam para o Espírito, cedendo às suas vontades, esses tendem a cogitar das coisas de Deus. Se estivermos dispostos a operar as vontades do Pai, a orar, a meditar sobre sua palavra, a buscarmos ser cada vez mais semelhantes a Cristo, então esse será o nosso gozo, e não uma frustração pela abstinência do que é mundano disfarçada de piedade.

 

Verso 6: Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para vida e paz.

A inclinação da carne conduz-nos à morte porque ela nos mantêm distantes de Deus; porque ela promove uma idolatria por nós mesmos; porque ela sugere a autojustificação, como se pudéssemos, por nossas próprias forças, nos purificar da corrupção.

O pendor do Espírito, contudo, leva-nos para a vida e a paz, pois tira-nos do centro e coloca Deus; faz-nos reconhecer que nada somos e nada merecemos, pois, pecadores, somos incapazes de fazer o bem por nossa própria conta; insufla em nosso coração a gratidão ao Senhor Jesus, pois através de seu sacrifício herdaremos o Reino.

 

Versos 7-8: Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.

É impossível, por nossas próprias forças, cumprirmos a lei de Deus. Paulo, no cap. 4 dessa mesma carta aos romanos, diz que quando a lei adverte para não cobiçar, no momento em que nela medita a cobiça o assalta. A lei, em si, é boa e espiritual, porém somos carnais e pecadores. Para nós ela se assemelha a um espelho: Mostra que estamos sujos sem todavia nos limpar.

Quem está na carne não pode agradar a Deus porque, não sendo capaz de cumprir a lei, aumentam-lhes as concupiscências e permanece em sujidade. Apenas o sacrifício de Cristo pode nos tornar alvos como a neve, pois levou consigo as nossas transgressões, crucificando-as junto de si; a manutenção da pureza, levada a cabo por um processo de santificação, cabe a nós mediante a orientação do Espírito Santo.

 

Verso 9: Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

É feita aqui uma advertência dura expressa em delicadeza fraternal. Em essência, Paulo faz duas afirmações ao extremo relevantes: Primeiro, que aquele que está no Espírito não pode estar na carne, ou seja, por mais que a natureza pecaminosa persista após a conversão, deixamos de ser dela escravos, pois temos opção de agir conforme ela ou em consonância com o Espírito, de modo que tendo Ele, não podemos deixar que a carne prevaleça sempre; segundo, o selo de garantia de pertencimento a Cristo é o próprio Espírito Santo, pelo que se não o temos, não passamos pelo novo nascimento e portanto não herdaremos o Reino que há de ser instalado.


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