Apóstatas e Desviados


           É muito comum entre membros de igrejas evangélicas a referência a pessoas que estejam desviadas da Fé – ou da igreja. Tais pessoas são assim rotuladas por terem deixado de frequentar a igreja, abdicado de perseverar no exercício da santificação e aberto mão de se guardar das impurezas deste mundo. Muito menos usual, por outro lado, é a referência à apostasia. Embora haja semelhanças entre apóstatas e desviados, as divergências são fundamentais, e são justamente estas que fazem com que os dois termos não sejam empregados com a mesma frequência por evangélicos.

            A fim de compreendermos a abismal distinção entre as duas classes de pessoas acima apontadas, precisamos entender que o novo nascimento, requisito em absoluto necessário para a conversão e participação no Reino que há de vir, faz com que sejamos novas criaturas; não fisicamente, mas em termos espirituais. Deste ponto em diante, o Espírito Santo passa a fazer morada em nós, convencendo-nos do pecado, da justiça e do juízo: Ele imprime em nós o sentimento de que não devemos fazer algo por ser errado; mostra-nos o que devemos fazer por ser o certo; e nos infunde a ideia do juízo que aguarda a todos quantos se recusam obstinadamente a ouvir a sua voz, falada ao nosso coração.

            Em sua missiva aos gálatas, o apóstolo Paulo discorre acerca dos frutos espirituais. A este respeito, penso que, assim como uma laranjeira não se esforça em dar laranjas, nem qualquer bananeira coloca força para frutificar bananas, do mesmo modo os frutos do espírito são manifestos por nós e em nós não através de um empenho extrínseco de fazer as boas obras ou nos portarmos bem para ganharmos o direito de herança no Reino, mas de um simples deixar fluir; permitir que o Espírito de Deus tome as rédeas de nossa vida e assuma total controle sobre o nosso ser. Descansar no Senhor, como tanto exorta a Bíblia, implica confiar em Deus, entrega-se, render-se a Ele; significa admitirmos que somos falhos e tendenciosos a praticar o mal, mas o Todo-Poderoso deseja que sejamos instrumentos em Suas poderosas mãos para a consecução dos Seus desígnios.

            Voltando para a questão da diferenciação entre as duas classes de pessoas, declaro que o desviado é aquele indivíduo que, desviando-se para a esquerda ou para a direita dos caminhos do Senhor, decide deleitar-se nas obras da carne. Ele ouve a voz do Espírito em seu coração, porém a voz da carne é sobremaneira mais alta e estridente. Ao proceder levianamente sabe, em seu íntimo, que é reprovado por Deus; mas não se detém ao exame de consciência, age quase que precipitadamente. Talvez o melhor exemplo bíblico de quem assim orienta seu agir esteja exposto na parábola do filho pródigo: O filho decide sair de debaixo da autoridade e proteção do pai para se lambuzar em manjares e devassidão. O ponto central na vida do desviado é que ele, quando se dá conta de que os prazeres mundanos não são capazes de lhe suprir as reais necessidades, quando percebe-se pecador, sujo e completamente impotente, e arrepende-se do que fez, Deus, tal como o pai na parábola, está pronto para recebê-lo de braços abertos.

            O Espírito Santo nos fala a todo o momento, visto residir em nós. Se, obstinadamente recusarmos a dar-lhe ouvidos, não realizando o que Ele nos manda fazer, ou procedendo do modo que Ele reprova, olvidando-nos do juízo vindouro, a tendência é que gradualmente a Sua voz se desfaleça para dar espaço à carne. Acredito que se persistirmos firmes nessa teimosia em resistir ao Espírito Santo o fogo que há em nós se esfriará até chegar ao ponto crítico em que é apagado. A partir desse ponto não mais disporemos do juízo fino por Ele habilitado, mas reteremos apenas o natural, aquele que Deus a priori colocou no coração de todas as pessoas. Sucede, nesse caso, que mesmo estando na igreja, fazendo parte de uma congregação de irmãos, quem sabe até mesmo sendo usados por Deus para a realização de maravilhas, não mais teremos o Santo Espírito a nos guiar pelas veredas da verdade. Tornar-nos-emos apóstatas, pois retrocedendo na fé em Deus, aumentaremos cada vez mais a fé em nós mesmos.

            A palavra de Deus conclama a todos ao arrependimento, à conversão. O apóstata, pecando voluntariamente e escarnecendo do sacrifício de nosso Senhor Jesus, perdeu a capacidade de responder a esse chamado porque sua consciência foi cauterizada pelo calor da teimosia carnal. Um dos grandes eventos que precederão o retorno de Jesus será justamente, segundo Paulo, a apostasia; ela, por razões lógicas, não pode advir do mundo, mas procederá do interior das igrejas

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