A Libertação do Cativo
Texto base: Salmo 126
Neste salmo o autor revela a jubilante alegria que sentiram os cativos ao tornar a Jerusalém. Com grande exultação foram eles recebidos pelos que ali estavam. O regozijo era tamanho, que as pessoas libertas, mesmo exauridas pelo cansaço extremo por terem viajado centenas e centenas de quilômetros de Babilônia à Cidade Santa, eram arrebatadas por um torpor anestesiante, flutuavam como que sonhando.
De semelhante modo, nós, outro dia, estávamos cativos; cativos no pecado, levados pela concupiscência da carne, pela concupiscência dos olhos e pela soberba da vida. Em outros tempos agíamos segundo as aspirações do nosso egoísta ventre, percebíamos o próximo como concorrente, se não fosse aliado de conveniência. Mas hoje não somos mais escravos; nossa alforria foi conquistada com dor e sangue, todavia não o nosso, mas de Cristo Jesus. O preço por nossa liberdade era-nos impagável; estávamos condenados a uma vida inteira de servidão, e, após ela, ao fogo eterno. Deus, em sua imensurável piedade e compaixão, fez-se carne e padeceu o sofrimento que estava destinado a nós; a cada um de nós. O preço da liberdade foi pago na cruz de uma vez por todas. Glória a Deus!
A Babilônia em que estávamos proporcionava-nos delícias e deleites; fonte inesgotável de prazeres sensoriais com o acesso franco de todos quantos se sentiam insaciáveis. A relação de escravidão se realizava na exigência de nos adequarmos ao padrão por ela requerido para que tivéssemos acesso ao manjar que tanto necessitávamos. Enquanto tomávamos parte dos manjares, fugia-nos a lembrança da finitude, da morte, inimigo sempre à espreita de pensamentos que não estivessem compenetrados com o desfrute do prazer. Ocorre que hoje não somos mais escravos, pois libertos estamos! Cristo nos libertou do medo mórbido da morte, mostrando que ela não tem poder eterno sobre nossas vidas. Sem um medo tão tenebroso a rondar os pensamentos, um inimigo tão terrível que sequer ousávamos nos deter em seus aspectos, enfraquece-se a compulsão pela busca dos prazeres carnais, pois estes deixam de ser o único modo de sermos libertos das garras ameaçadoras do fim. Enquanto nos deleitamos em prazeres do corpo a nossa atenção move-se do fim de todas as coisas para o momento presente; findo o gozo, somos conduzidos por nossa mente outra vez para o fim, palco de aflição e angústia. Com Cristo, perdemos o receio pelo que nos aguarda; de certo modo, até desejamos que o fim se concretize, pois sabemos que as coisas que nunca ouvimos, e que jamais subiram aos nossos pensamentos, de tão grandes e maravilhosas, são as que Deus preparou para aqueles que o amam.
A mudança em nossa vida, a alteração da condição de escravo para liberto, é tão radical, tão grande e irresistivelmente reconhecida pelos que ainda estão cativos, que estes dirão a nosso respeito: Grandes coisas fez o Senhor! Se libertos, andemos como quem está livre; com toda a humildade, porque não fomos alforriados por nossas próprias forças ou méritos, senão por Jesus, mediante o preço que pagou com o sofrimento que padeceu culminado na morte, e morte de cruz. Com toda humildade, por essa razão, mas também alegres e profundamente gratos.
Se antes plantamos sementes e as regamos com as lágrimas do vazio e da desolação, hoje colhemos alegria, retidão e paz; pois sabemos que temos um Deus que é conosco.
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