Se é para o Senhor, Levantemo-nos e Edifiquemos
Texto base: Neemias 2
1: 11. Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo, e à oração dos teus servos que desejam temer o teu nome; e faze prosperar hoje o teu servo, e dá-lhe graça perante este homem. Então era eu copeiro do rei.
Essas são as palavras de Neemias, parte final de sua oração a Deus confessando os pecados do povo – juntamente aos seus - e suplicando que a cidade de Jerusalém fosse reerguida.
Anos antes, grande parte do povo judeu retornara a Judá após anos de exílio em Babilônia. Ocorre, todavia, que vindo alguns de Jerusalém, perguntou-lhes Neemias acerca de como seus compatriotas estavam. Após ouvir que parte significativa estava assolada pela pobreza e tornados alvos de zombaria e desprezo por estrangeiros que habitavam ao redor da cidade, bem como que os muros de Jerusalém ainda não haviam sido reconstruídos – pois derribados foram pelo exército babilônico por ocasião da invasão – esse homem de Deus pôs-se na brecha de oração para clamar ao Senhor.
É interessante notar, no versículo em tela, que Neemias era o então copeiro do rei da Pérsia, Artaxerxes, império que derrotara Babilônia, e portanto a substituiu como grande potência mundial. Digo interessante porque pode ser que Deus não nos coloque como a liderança que toma as grandes decisões, mas nos fará ser próximos o suficiente para de alguma maneira exercermos influência. Com efeito, foi assim com José, elevado ao cargo de segundo homem mais importante do Egito, ficando abaixo apenas de Faraó; podemos dizer o mesmo acerca de Daniel, a quem recorreu, para aconselhamento, primeiro Nabucodonosor, depois Belsazar, sucessor daquele. Agora, vemos que Neemias tinha uma proximidade muito grande com Artaxerxes.
Isso ocorre porque Deus deseja que sejamos influenciadores, e não influenciados; que sejamos exemplos através de nossas palavras e ações, e não meros viventes preocupados tão somente com seus afazeres cotidianos. O grande objetivo de nossas vidas não é fazer o que o mundo fazer, independente de ser lícito ou não, mas sermos testemunhas de Cristo; porque chegará um momento que o grande tribunal haverá de ser instalado, e ninguém poderá dizer que nunca ouviu o Evangelho, ninguém poderá dizer que não sabia que Cristo voltaria para fazer justiça.
2:1. Sucedeu, pois, no mês de Nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes, que estava posto vinho diante dele, e eu peguei o vinho e o dei ao rei; porém eu nunca estivera triste diante dele. 2 E o rei me disse: Por que está triste o teu rosto, pois não estás doente? Não é isto senão tristeza de coração; então temi sobremaneira.
É curioso notar que no versículo anterior Neemias pede a Deus em oração que tenha sucesso e graça diante do rei naquele mesmo dia, porém apenas quatro meses mais tarde tem a oportunidade de expor ao rei o que lhe afligia. Isso decorre do fato de que ninguém poderia dirigir a palavra aos reis persas sem que fosse como resposta a uma pergunta. Com efeito, podemos ver isso na história de Ester, no quanto temera ser morta por esse mesmo Artaxerxes em razão de lhe fazer um pedido sem que fosse aberta uma oportunidade.
Muitas vezes oramos, mas a resposta de Deus chega após muito tempo. Eis o caso de um homem de Deus que orou e apenas quatro meses depois seu clamor foi atendido! Também poderíamos citar Daniel, o qual se pôs a orar, mas depois de vinte e um dias veio a resposta. Aliás, este caso nos ensina que o tempo de resposta de Deus não está vinculado à santidade daquele que ora, mas pode estar ligado ao mundo espiritual que nos cerca, o qual, embora invisível aos nossos olhos, é muito real e tenebroso! É verdade que as orações dos ímpios, quando insistem em continuar no pecado, são abomináveis ao Senhor (Provérbios 28:9), porém não se trata desse caso aqui. Algumas vezes um servo de Deus orará e um cego passará a enxergar imediatamente; em outras vezes, a resposta da oração virá anos depois.
3 E disse ao rei: Viva o rei para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas a fogo?
Neemias estava triste. Dando o rei ocasião, expôs os motivos de sua tristeza. A cidade estava assolada; seus compatriotas estavam sendo zombados; os muros não haviam sido reconstruídos; as portas já não existiam mais, pois consumidas foram pelo fogo muitos anos antes durante a invasão babilônia.
Neemias, porém, não era cidadão de Jerusalém, pois não havia nascido ali. Em virtude do exílio imposto pela Babilônia, nasceu em terra estrangeira. Mas isso não o impediu de se condoer por aquela cidade, sentir as dores daquele povo, se entristecer com a cidade que Deus estabelecera como “santa” estar em condição tão deplorável, vulnerável aos inimigos.
Por acaso nós nos entristecemos quando vemos um irmão em Cristo pecar? Oramos para Deus ter misericórdia ou pedimos sua punição? Oramos para Deus trazer arrependimento ou no íntimo do nosso coração desejamos a destruição? Não podemos, em absoluto, em nome de um suposto acolhimento, fazer de conta que nada aconteceu quando soubermos que alguém cometeu pecado, pois é preciso que a pessoa perceba que o erro não agrada nem a Deus nem aos servos de Deus; porém, não orar pelo arrependimento e conversão do pecador e anelar sua aniquilação é dar a Deus a medida com a qual queremos ser julgados quando errarmos.
4 E o rei me disse: Que me pedes agora? Então orei ao Deus dos céus, 5 E disse ao rei: Se é do agrado do rei, e se o teu servo é aceito em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.
Antes de agir, Neemias orou a Deus; antes de fazer o que cumpria a ele, falou com Deus. Perceba que não se trata de uma oração que durou a noite toda, ou que fez calos em seus joelhos, ou realizada em alta voz. Foi uma oração curta, feita em seu coração, em pé, provavelmente pedindo a Deus uma intervenção, suplicando que a fala do rei lhe fosse favorável. Não existe uma única forma de colocar diante de Deus nossos anseios; Neemias fez da forma como era possível para aquela ocasião.
6 Então o rei me disse, estando a rainha assentada junto a ele: Quanto durará a tua viagem, e quando voltarás? E aprouve ao rei enviar-me, apontando-lhe eu um certo tempo. 7 Disse mais ao rei: Se ao rei parece bem, deem-se-me cartas para os governadores dalém do rio, para que me permitam passar até que chegue a Judá. 8 Como também uma carta para Asafe, guarda da floresta do rei, para que me dê madeira para cobrir as portas do paço da casa, para o muro da cidade e para a casa em que eu houver de entrar. E o rei mas deu, segundo a boa mão de Deus sobre mim.
Uma vez que Deus abriu as portas para Neemias conversar com o rei e lhe expor o que o angustiava, ele aproveitou a oportunidade para externar seus sentimentos e solicitar-lhe ajuda com a madeira que seria usada para construir os portões da muralha que cercava Jerusalém. Quando Deus nos dá oportunidade, devemos aproveitar, assim como Eliseu pediu a Elias não a mesma unção que sobre este estava, mais dobrada.
Muitas vezes deixamos de pedir a Deus as coisas por acharmos que diante de tantas grandes bênçãos que ele nos tenha concedido, não devemos importuná-lo com pedidos pequenos. Certa vez eu e minha esposa estávamos procurando o documento de sua moto; era domingo, ela sairia para trabalhar na manhã de segunda, e na semana anterior ela havia sido para por policiais em uma blitz. A situação estava me deixando aflito, pois não queria pensar na possibilidade de ela ter que passar por tanto transtorno tendo a moto apreendida. Depois de muito procurarmos, orei a Deus suplicando ajuda. Assim que me levantei, encontrei o documento dentro da primeira gaveta que abri.
Outro ponto digno de nota desses versículos é a atribuição a Deus, e não aos homens, o sucesso que tinha tido até então. Se o rei o ouviu, providência de Deus; se o rei lhe deu cartas para passar pelas guardas das províncias até chegar ao destino final, providência de Deus; se o rei permitiu que levasse madeira para Jerusalém, providência de Deus. Tudo o que acontece de bom em nossa vida, é Deus agindo.
9 Então fui aos governadores dalém do rio, e dei-lhes as cartas do rei; e o rei tinha enviado comigo capitães do exército e cavaleiros. 10 O que ouvindo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, lhes desagradou extremamente que alguém viesse a procurar o bem dos filhos de Israel. 11 E cheguei a Jerusalém, e estive ali três dias. 12 E de noite me levantei, eu e poucos homens comigo, e não declarei a ninguém o que o meu Deus me pôs no coração para fazer em Jerusalém; e não havia comigo animal algum, senão aquele em que estava montado.
Quando Neemias chegou a Jerusalém, de imediato percebeu que algumas pessoas não gostaram de sua presença ali. Por isso, decidiu não falar com ninguém, nem mesmo a seu povo, o que Deus lhe havia posto no coração.
Estamos cercados por pessoas que não querem o nosso bem, somos ininterruptamente rodeados pelo Maligno. Este não sonda coração, assim como nenhuma pessoa é capaz de ler pensamentos. Muitas vezes, buscando nos resguardar, deveremos nos manter de boca fechada e esperar a hora certa para anunciar o que vamos fazer.
Neemias, sem declarar nada a ninguém, saiu a noite para vistoriar o muro, quem sabe para realizar o levantamento da quantidade de materiais que seriam necessários à reconstrução. Talvez, se saísse durante o dia ou se dasse com a língua nos dentes, seria atacado e então teria os planos frustrados. Como varão prudente e sensato, esperou o momento certo para falar.
13 E de noite saí pela porta do vale, e para o lado da fonte do dragão, e para a porta do monturo, e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam fendidos, e as suas portas, que tinham sido consumidas pelo fogo. 14 E passei à porta da fonte, e ao tanque do rei; e não havia lugar por onde pudesse passar o animal em que estava montado. 15 Ainda, de noite subi pelo ribeiro e contemplei o muro; e, virando entrei pela porta do vale; assim voltei. 16 E não souberam os magistrados aonde eu fora nem o que eu fazia; porque ainda nem aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra, até então tinha declarado coisa alguma. 17 Então lhes disse: Bem vedes vós a miséria em que estamos, que Jerusalém está assolada, e que as suas portas têm sido queimadas a fogo; vinde, pois, e reedifiquemos o muro de Jerusalém, e não sejamos mais um opróbrio.
Uma vez que chegou o momento certo, pois percebera que não necessitaria de nenhum material a mais do que já dispunham, conclamou a todos para auxiliar na reconstrução: chamou o povo, os sacerdotes, magistrados e pedreiros, ainda que os sacerdotes e magistrados não agissem diretamente – pois os primeiros deveriam tomar conta dos rituais expostos na Lei e aos segundos competia julgar – todos foram chamados; ninguém ficou de fora, ninguém se sentiu menosprezado ou excluído.
18 Então lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável, como também as palavras do rei, que ele me tinha dito; então disseram: Levantemo-nos, e edifiquemos. E esforçaram as suas mãos para o bem.
Se a obra é de Deus, então levantemo-nos e edifiquemos; mesmo que feita por pessoa com cujas opiniões não concordamos, levantemos e edifiquemos. Neemias nunca havia pisado em Jerusalém; todo o contexto conspirava para que alguém que lá estava se sentisse enciumado com a liderança dele, mas ninguém o julgou, pois se a obra é de Deus, levantemo-nos e edifiquemos.
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