Onde está Abel, teu irmão?

 

Texto base: Gênesis 4:1-13

1 E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do SENHOR um homem. 2 E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.

Após comerem do fruto do conhecimento do bem e do mal, os olhos de Adão e Eva foram abertos, de modo que perderam, digamos assim, a sua inocência para com o que é ilícito aos olhos de Deus. A fim de que também não comece da árvore da vida e, por conseguinte, vivessem eternamente, o Altíssimo os expulsou do Éden, colocando como guardas anjos querubins com espadas flamejantes. Depois de algum tempo fora do jardim, Adão e Eva se relacionaram, pelo que Eva concebeu dois filhos: Primeiro Caim, em seguida Abel. Enquanto este se tornou pastor de ovelhas, aquele envolveu-se no ofício de lavrador.

 

3 E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. 4 E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.

Certamente Caim e Abel ouviram de seus pais que antes do pecado original, a saber, aquele por conta do qual foram expelidos do jardim do Éden, Deus passeava pelo local pela viração do dia para conversar com Adão e Eva, um relacionamento lamentavelmente quebrado pela transgressão da ordenança divina.

Tencionando restabelecer a relação com o Criador, Caim dá o pontapé inicial oferecendo-lhe dos frutos que colhera a propósito de seu trabalho como lavrador; Abel, por sua vez, escolhe os primogênitos e separa sua gordura para Deus. Claramente este último levou a Deus o que tinha de melhor, motivo pelo qual sua oferta foi recebida.

O texto bíblico não transluz todos os detalhes, porém o fato de Deus ter se agradado apenas da oferta de Abel leva-nos a entender que Caim não o ofertou o seu melhor, mas o que lhe sobejava. Ocorre, conosco, amiúde algo semelhante: Entregamos a Deus não o nosso melhor, mas o que nos sobra – isso quando realmente lhe fazemos alguma oferta. Muitas vezes tiramos tempo para tudo: Para o trabalho, para o relacionamento com o cônjuge, para os filhos, para a diversão, para o entretenimento e por fim, se contudo sobrar, para o nosso Pai Celestial, que nos proveu energia, saúde, as companhias e o dinheiro para desfrutarmos tudo aquilo. A verdade é que raramente buscarmos a Deus em primeiro lugar esperando que as demais coisas nos sejam acrescidas; buscamos estas coisas para depois, quem sabe, buscar a Deus, invertendo ingratamente a lógica correta.



5 Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.

É curioso notar que Caim muito embora soubesse, pelo contraste com a oferta de seu irmão, de que não havia dado a Deus um bom presente, enche-se de fúria contra Abel, como se fosse este a causa de ter sido preterido. Caim ficou com inveja, um sentimento pernicioso caracterizado por entristecer-se com a alegria alheia. A inveja, como podemos observar, não é um sentimento particular de nossos dias, existe desde o início do mundo.



6 E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? 7 Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.

Muito embora Deus tenha rejeitado a oferta de Caim, Ele não rejeitou Caim. O Senhor lhe oferece uma outra chance de agradá-lo, dizendo que se fizer o bem, certamente ele será aceito. Assim como o primeiro filho de Adão, somos passíveis de errar; ele não era pior nem melhor do que qualquer um de nós. A inclinação da nossa carne para o erro é tão grande que o apóstolo Paulo certa vez disse: “O bem que quero fazer não faço, mas o mal que não quero, esse o faço” (Romanos 7:19). Se não pecamos por ações, pecamos por palavras; se conseguimos conter nossa língua, não dominamos os pensamentos; enfim, miseráveis pessoas que somos! Contudo, nosso Senhor sempre estará à espera de um arrependimento sincero para nos perdoar e conceder uma nova chance.

Ocorre, porém, que devemos aproveitar essa outra chance, caso contrário o pecado jaz à porta de nossa vida, tencionando novamente entrar. Como um lobo faminto diante de uma ovelha, ele nos deseja devorar, todavia Deus nos capacita a dominá-lo – Ele nunca nos deixará ser tentados além de nossas forças! (1 Coríntios 10:13)



8 E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.

Infelizmente Caim deixou-se levar pelo pecado da inveja e tirou a vida do inocente irmão. Caim não deu ouvidos a Deus, deixando o pecado novamente entrar em sua vida e dominá-lo. Seguramente não cometemos ato semelhante a Caim, mas quantas vezes permitimos deliberadamente que o pecado entrasse em nossa vida? Em quantas ocasiões fizemos o que desagrada a Deus conscientemente? Falamos mal do próximo cientes de que não deveríamos, pagamos o mal com o mal, zombamos de alguém?



9 E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? 10 E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.

A seguir ao assassinato, Deus pergunta Caim onde está seu irmão. O intuito do Altíssimo não é descobrir o paradeiro de Abel ou o que Caim poderia ter feito com ele; Deus sabia o que havia acontecido, Ele sabe de todas as coisas antes mesmo que sejam concretizadas. Ele é o único capaz até mesmo de sondar corações e, muito melhor do que nós, saber o que tanto precisamos.

A pergunta de Deus tem o intuito de fazer Caim refletir acerca do que havia feito. Ao interrogar “Onde está Abel, teu irmão?”, ele realça a afirmação de que Abel era o irmão dele, e, portanto, um ato ainda mais hediondo que um homicídio, afinal ele havia matado seu próprio irmão! A pergunta também tem o objetivo de reforçar o que Caim já sabia e por isso coloca em sua resposta a Deus: Caim, como irmão, era o guardador de Abel.

Ao dizer que devemos amar o próximo como a nós mesmos, o 2º mandamento tacitamente declara que devemos ser guardadores uns dos outros. Na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37), o samaritano cuida do ferido como se fosse alguém de sua família, despendendo tempo, esforço e dinheiro para zelar por alguém - que sequer conhecia - somente porque este necessitava. Esse deve ser nosso alvo, enxergar as pessoas como se fossem membros de nossa família, pois assim estaremos cumprindo os mandamentos do Senhor.



11 E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. 12 Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra. 13 Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada.

Talvez o maior erro de Caim foi ter dito que a maldade dele era tão grande que não poderia ser perdoada. Independente do que tenhamos feito, por mais horrível e nefasto que seja, em havendo arrependimento sincero, em contrição de coração, Cristo estará de braços abertos para nos perdoar. Pensar que nossos pecados não poderão ser perdoados pela sua gravidade implica em diminuir a colossal obra que o nosso Senhor Jesus fez por nós: Sendo o próprio Deus, encarnou-se na forma de homem, homem de dores, homem de quem as pessoas viravam o rosto, sem qualquer formosura em sua aparência, padeceu todo tipo de humilhação; por derradeiro, padeceu morte de cruz, por cujas feridas fomos reconciliados com o Deus Altíssimo! Há sempre solução, não carregue sentimento de culpa; esse sim será um fardo mais pesado do que pode carregar.

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